“Santa Maria da Feira foi o terceiro município do país a lançar um ciclo de órgão de tubos e outros concelhos foram atrás”
Rui Soares, natural de Fiães, é coordenador do Ciclo de Órgão de Tubos desde que a iniciativa arrancou no concelho, em 2018. Em entrevista à Sintonia, o responsável destaca que o projeto tem “todas as condições para prosseguir e vincular-se como um dos ciclos mais importantes do país”, lembrando que Santa Maria da Feira foi a terceira cidade do país a dinamizar um ciclo sobre este instrumento. A IV edição da iniciativa encerra no próximo domingo, com um concerto imperdível na Igreja da Misericórdia, em Santa Maria da Feira.
Rui Soares, a paixão pela música, a digressão pelo estrangeiro e o regresso a Portugal
Rui Soares é natural de Fiães e afirma que a ligação à música nasceu “muito cedo“, “talvez quando ainda estava na barriga da mãe“. O gosto pela música está nos genes e, aos 12 anos, Rui Soares inicia o percurso académico. A primeira paixão, conta, foi o trompete, mais tarde substituído pelo verdadeiro amor, o órgão. “O órgão foi uma coisa que apareceu do nada e que deu a volta à minha vida por completo, a ponto de deixar os estudos de trompete e dedicar-me por completo ao estudo das teclas”, narra aos microfones da Sintonia.
Apenas com 14 anos de idade, Rui Soares foi admitido, com exceção, na Escola de Ministérios Litúrgicos – Diocese do Porto – onde frequentou o Curso de Música Litúrgica na vertente Órgão. Mais tarde, Rui Soares ruma ao Conservatório de Amesterdão, onde obtém o grau de Mestrado com distinção “Cum Laude” em música antiga. Decide, depois, regressar a Portugal para por em prática um projeto que ainda hoje se mantém: o Colégio de Música de Fiães.
“O ciclo tem de ser sempre nivelado por cima”
Aos microfones da Sintonia, Rui Soares explica como surgiu o Ciclo de Órgão de Tubos, corria o ano de 2018. Foi graças a um convite do vereador da Cultura do Município de Santa Maria da Feira, Gil Ferreira.
“O ano zero foi uma loucura, nem eu estava com essa expectativa“, recorda Rui Soares, que sublinha as enchentes que se verificaram nas quatro igrejas que acolheram o I Ciclo de Órgão de Tubos. “Correu tão bem que a forma de organização dos concertos se mantém exatamente igual”, afirma. Um dos fatores que contribui para o sucesso desta iniciativa, destaca o coordenador tem sido a transmissão de imagem durante os concertos. “As pessoas começaram a ter noção do que era tocar um órgão e um concerto passou a ser um espetáculo“, denota.
A cada ciclo, revela o responsável, a organização procura “inserir algo que desperte a atenção”. A particularidade da edição de 2022, afirma Rui Soares, foi a guitarra.
Como é feita a seleção dos artistas? Rui Soares explica que “o ciclo tem de ser nivelado sempre por cima”. A organização dá primazia a organistas portugueses, tentando incluir talentos emergentes, mas também organistas reputados no estrangeiro.
Ao fim de quatro edições, que balanço é possível fazer? “O interesse mantém-se“, realça o responsável, que aponta que o Ciclo de Órgão de Tubos tem conseguido captar públicos das mais variadas faixas etárias e de outros concelhos. Há quem assista a todos os concertos do ciclo.
O Ciclo de Órgão de Tubos, uma iniciativa do município de Santa Maria da Feira, procura aliar a música à valorização do património artístico e religioso do território. Rui Soares afirma que as metas do projeto têm sido cumpridas.
O Ciclo de Órgão de Tubos de Santa Maria da Feira tem, na opinião de Rui Soares, “todas as condições para prosseguir e vincular-se como um dos ciclos mais importantes do país”. “A seguir à cidade do Porto e à cidade de Lisboa, fomos o terceiro município a lançar um ciclo de órgão. Hoje existem muitos e o que o município da Feira promoveu foi copiado por muitos outros municípios“, constata.
O IV Ciclo de Órgão de Tubos passou já pela Igreja Matriz de Santa Maria da Feira, Nogueira da Regedoura, Sanguedo, Mosteirô e Santa Maria de Lamas. Jean-Baptiste Robin, um dos mais proeminentes organistas e compositores franceses da atualidade, encerra o ciclo no próximo domingo, dia 27 de novembro, às 16h na Igreja da Misericórdia em Santa Maria da Feira.
O podcast da entrevista na íntegra está disponível aqui.