“Tem sido muito satisfatório fazer parte de todo este trajeto do Feirense no ciclismo”

“Tem sido muito satisfatório fazer parte de todo este trajeto do Feirense no ciclismo”

Joaquim Andrade, diretor desportivo da ABTF Betão Feirense

Joaquim Andrade orienta, desde 2018, a equipa de ciclismo do Clube Desportivo Feirense. Aos microfones da Sintonia, o diretor desportivo fala com orgulho do projeto que renasceu em 2018, faz o balanço da temporada transata e aborda as apostas para 2023. Este ano, a ABTF Betão Feirense assume que o principal objetivo é a Volta a Portugal e mantém a aposta na fórmula utilizada em anos transatos: aliar a irreverência da juventude à sabedoria de corredores mais experientes.

NOTA: Aquando da emissão desta entrevista, Amaro Antunes ainda não tinha comunicado o adeus ao ciclismo e consequente rescisão com a ABTF Betão Feirense. A entrevista foi emitida a 11 de janeiro de 2023.

Joaquim Andrade abre o livro sobre a temporada 2023 da ABTF Betão Feirense, sem antes revisitar a época transata e até o momento em que o ciclismo renasceu no clube fogaceiro, em 2018. Acredita que o grupo de corredores que conseguiu reunir para mais um ano na estrada lhe dá garantias e responsabilidade acrescidas durante todo o calendário deste ano. A Volta a Portugal em Bicicleta é o grande objetivo do Feirense, que assume algum favoritismo e que continua a apostar num coletivo que se divide entre a experiência e a juventude.

Apoio do público cresce desde 2018, parceria com SC S. João de Ver tem colhido frutos

Numa longa entrevista à Rádio Sintonia (a 11/01/2023), o diretor desportivo da ABTF Betão Feirense foi convidado a recuar no tempo até 2018, altura em que o Feirense fez renascer a modalidade. Desde aí, garante Joaquim Andrade, o entusiasmo pelo ciclismo e pela equipa fogaceira tem crescido de dia para dia e o diretor desportivo aponta que o apoio tem sido fundamental para “os atletas se superarem e fazerem cada vez mais”.

A parceria estabelecida com o Sport Ciclismo de S. João de Ver, uma das melhores escolas da modalidade no país, também tem colhido frutos. O clube malapeiro continua a formar grandes talentos para o ciclismo, alguns dos quais diretamente para as fileiras do Feirense, o que leva Joaquim Andrade a classificar o protocolo estabelecido como “muito proveitoso“.

Temporada 2022 em revista… Arranque difícil mas prestação na Volta compensou

Joaquim Andrade não esquece o arranque difícil no primeiro terço da época de 2022. A equipa era praticamente toda renovada e demorou algum tempo até que o coletivo se entrosasse e crescesse. “O primeiro terço da época foi difícil e tardou a termos resultados, mas eu estava confiante e sabia que podiam chegar lá e acabamos por chegar no nosso melhor na Volta a Portugal, que acabou por ser a nossa melhor prova“, destaca o diretor desportivo. Na prova rainha do ciclismo português, Joaquim Andrade destaca a etapa da subida à Torre como o “momento alto do Feirense“, onde André Cardoso foi um dos protagonistas, acabando por terminar em quarto lugar.

Dois dias antes do arranque da Volta a Portugal, o ciclismo em Portugal viveu dias negros, com a PJ a realizar várias buscas no âmbito da Operação ‘Prova Limpa’ de combate ao doping. Joaquim Andrade admite que estes casos deixam marcas e afetaram os corredores durante a prova rainha do ciclismo português. “Afeta sempre, se bem que as equipas estão ali e centradas no que têm de fazer e por vezes quase que passa um pouco ao lado, mas com a dimensão que teve acabou por afetar bastante e criou o receio de que a Volta pudesse perder algum interesse e que até poderiam haver alguns incidentes“, diz. Apesar disso, Joaquim Andrade aponta que a Volta “continuou a ser muito competitiva e com muito público“, apesar de reconhecer desequilíbrios no pelotão, com a equipa da Glassdrive Q8 Anicolor a situar-se num patamar superior. “Se houvesse outro bloco com alguma força, penso que nós e as outras equipas acabaríamos por tirar um pouco mais de partido“, refere.

Foi também na Volta a Portugal que o Feirense viu renovado o vínculo com o patrocinador principal, o Grupo Tavares detentor da empresa ABTF Betão. “Serviu de ânimo e de reconhecimento para a equipa”, sublinha Joaquim Andrade, agradecendo o apoio do grupo, liderado por Danny e Fátima Tavares, “duas pessoas amantes do ciclismo“. “Acho que foi um prémio para a equipa e para o ciclismo, fazem falta este tipo de patrocínios e de pessoas que gostam da modalidade“, enaltece.

Plantel de 2023 alia juventude à experiência

Joaquim Andrade admite que gosta de comandar equipas que aliam a juventude à experiência. Se, por um lado, os corredores com mais anos de ciclismo ajudam os mais jovens na integração do pelotão, por outro, a juventude traz consigo alguma “irreverência” que “ajuda a acicatar” as provas.

Na equipa da ABTF Betão Feirense mantêm-se, desde a época transata, Ivo Pinheiro, Fábio Oliveira e Francisco Pereira. Ao plantel chegam ainda António Carvalho, Barry Miller, Santiago Mesa, Pedro Andrade, Diogo Oliveira, Francisco Moreira e Afonso Eulálio (estava também fechada a contratação com Amaro Antunes, que esta segunda-feira anunciou o fim da carreira desportiva).

Joaquim Andrade destaca individualmente as qualidades, a experiência e a margem de progressão dos corredores. “É um plantel completo, temos corredores praticamente para todos os terrenos o que nos dá garantias de podermos entrar nas provas com a ambição de as disputar“, afirma. O diretor desportivo reconhece que o Feirense, esta temporada, tem uma “responsabilidade maior” e aponta que a Volta a Portugal é o principal objetivo. O Feirense é candidato a vencer a prova rainha do ciclismo português? Joaquim Andrade diz que sim. “Temos essa possibilidade, não sabemos o que a época nos reserva, podem haver contratempos, mas penso que temos um leque de ciclistas que nos dão essa aspiração“, afirma.

Antes da Volta, há muito calendário para cumprir, a começar pela prova de abertura, seguindo-se depois a Clássica na Figueira da Foz e a dificílima Volta ao Algarve. “Sabemos que as primeiras provas vão ter um grau de exigência diferente“, afirma o diretor desportivo, apontando à concorrência na prova algarvia, onde marcam presença algumas das melhores equipas do mundo. Ainda assim, Joaquim Andrade assegura que a equipa vai lutar em todas as provas em busca dos melhores resultados.

“Fazem falta mais provas só para o escalão de sub-23”

Tem sido uma reivindicação apontada por vários dirigentes e corredores em Portugal. Joaquim Andrade também considera que a Federação Portuguesa de Ciclismo deve criar mais competições para o escalão de sub-23, apontando que a participação destes corredores apenas nas provas do escalão principal não ajuda ao crescimento dos corredores mais jovens. “Às vezes caiu-se no facilitismo de fazer comparações, porque um ciclista muito bom subiu de escalão e até ganhou, mas não são todos iguais, nem todos têm o mesmo crescimento e há ciclistas que precisam mais tempo. É preciso dar esse tempo“, realça. O diretor desportivo lembra que os ciclistas mais jovens passam, por vezes, períodos menos bons e estando apenas integrados em provas do escalão principal, isso pode levar à desmotivação e até abandono da modalidade. “Se se passa por um período desses, onde não estamos no nosso melhor em provas com toda esta exigência, é natural que comecem a pensar em desistir e há muitos que abandonam durante o ano e por isso faz falta mais provas”, aponta. Joaquim Andrade indica como positivo o facto de a FPC ter criado mais provas em 2023 para este escalão. “É um passo em frente, mas é preciso muito mais“, ressalva.

As mazelas da pandemia ainda não desapareceram e afetam sobretudo os mais jovens

Joaquim Andrade acredita que a modalidade ainda está a recuperar das marcas deixadas pela pandemia da Covid-19. O diretor desportivo argumenta que os principais afetados foram os corredores mais jovens, do escalão de sub-23. “Os ciclistas mais novos apanharam ali uma fase muito difícil e ainda estamos a recuperar desse período. Um ciclista que já esteja formado, com 29 ou 30 anos, teve dois anos mais difíceis, mas superou-se, mas para alguns mais novos, que tiveram poucas ou nenhumas provas, foi o final da carreira. Foram quase dois anos em branco e vazios que podiam ter sido importantes numa fase de crescimento”, lamenta.

“Tem sido muito satisfatório para mim fazer parte de todo este trajeto do Feirense no ciclismo”

Diretor desportivo do Feirense desde 2018, Joaquim Andrade olha para o projeto que renasceu no centenário do clube com orgulho. Reconhece que o percurso tem sido difícil, com muitas preocupações e afazeres, mas não nega que, olhando para trás, este é um trajeto também de superação, crescimento e afirmação. “Quando se chega ao período de acalmia e olhamos para trás, ano após ano, é sempre um sentimento de satisfação, de que conseguimos ultrapassar as dificuldades e superar os obstáculos. Tem sido muito satisfatório para mim fazer parte de todo este trajeto do Feirense no ciclismo e ter ajudado e contribuído para que nos possamos manter e, claro, continuar durante muitos anos mais“, realça. Na reta final da entrevista, desafiamos ainda Joaquim Andrade a recordar alguns dos momentos mais marcantes de castelo ao peito e a deixar uma mensagem final a todos os ouvintes da Rádio Sintonia.


Pode ouvir a entrevista com Joaquim Andrade na íntegra aqui.

Entrevista com Joaquim Andrade: 11/01/2023