“A Festa das Fogaceiras é a nossa marca e a nossa cultura”
Num programa especial associado à Festa das Fogaceiras, a Rádio Sintonia recordou a tradição secular ao Mártir S. Sebastião, conheceu de perto o projeto comunitário Ponto Fogaça, abordou a ligação da Festa das Fogaceiras às gerações mais novas e percorreu uma rica programação cultural que arrancou a 1 de janeiro e se estende até dia 28 deste mês. Emídio Sousa, presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Ernestina Teixeira, do projeto Ponto Fogaça, Elsa Sousa, responsável pela Festa das Fogaceiras, e Isaura Pereira, mãe das cinco meninas que este ano são o rosto do cartaz das Fogaceiras foram os convidados especiais do programa.
Fogaça da Feira harmoniza com…?
A Fogaça da Feira é o ex-libris gastronómico do concelho. Antes de aprofundar a Festa das Fogaceiras, é lançado o desafio… Como comem a Fogaça da Feira? Quais os melhores acompanhamentos? As respostas divergem, mas há uma certeza: A Fogaça da Feira harmoniza com muitos outros sabores.
Participar na Festa das Fogaceiras “é uma marca que fica para sempre”
Esta sexta-feira, Santa Maria da Feira cumpre o voto secular ao mártir S. Sebastião com a realização de mais uma edição da Festa das Fogaceiras, mas a verdade é que esta tradição, com 518 anos de história, é celebrada também além fronteiras, nomeadamente no Brasil, Venezuela ou África do Sul. O facto é lembrado por Emídio Sousa, que realça a ligação desta tradição às gerações mais novas. “A festa já não se vive só no dia 20 de janeiro, temos vindo a preparar toda esta programação cultural que decorre durante todo o mês. A Festa das Fogaceiras é a nossa marca e a nossa cultura. O momento em que a nossa vida fica muito marcada pelo nosso território é na infância, ficamos ligados ao sítio onde crescemos e talvez seja na infância que guardamos as melhores recordações. E um dos momentos que marcam são as Fogaceiras, então para uma menina que participe é uma experiência que nunca mais a vai largar, é uma marca que fica para sempre“, realça o autarca. “Não é por acaso que se faz as Fogaceiras no Rio de Janeiro, em Pretória ou em Caracas, é uma marca identitária do concelho“, acrescenta.
Passagem de testemunho: Tradição com 518 anos acarinhada pelos mais novos
Isaura Pereira é mãe das cinco meninas que este ano são o rosto do cartaz da Festa das Fogaceiras. Maria, Leonor, Inês, Benedita e Helena representam, na sua plenitude, o orgulho e o sonho de ser fogaceira e aceitaram prontamente o desafio do município. As duas mais velhas [Maria e Leonor, 13 e 11 anos] já participaram na festividade e querem repetir a experiência. A irmã do meio [Inês, 9 anos] está ansiosa pela sua estreia. Aos microfones da Sintonia, Isaura Pereira conta como tem sido a experiência e destaca a importância de “dar a conhecer e valorizar o património de Terras de Santa Maria” às gerações mais novas.
Ponto Fogaça: um projeto comunitário, que tricota casacos de lã para as meninas Fogaceiras e que combate o isolamento e a solidão
Este ano, nasceu o projeto comunitário Ponto Fogaça. A iniciativa partiu de colaboradoras da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, que sentiam, como conta Ernestina Teixeira, que “faltava no traje das fogaceiras um aconchego“. Assim nasce o projeto Ponto Fogaça, que se propõe a tricotar casacos de lã para as meninas mais pequenas que participam no cortejo e na procissão.
Em ano zero do projeto, o saldo é mais do que positivo. O Ponto Fogaça conseguiu juntar 55 voluntárias, das mais diversas faixas etárias, e não só do concelho mas também de outros territórios vizinhos. “A comunidade aderiu de uma forma espantosa“, realça Elsa Sousa, responsável pela Festa das Fogaceiras, que confessa que o projeto foi bem mais além da arte do tricot. “É bonito ver o carinho com que as pessoas estão a fazer este trabalho, a maior parte das voluntárias estão em idade ativa, mas também temos senhoras de mais idade e para elas foi também uma forma de ocupar o tempo e, para algumas, uma terapia“, afirma. Emídio Sousa concorda. “É um convívio mesmo são e este trabalho conjunto potencia a conversa, as pequenas histórias, as recordações. Algumas falaram que as pessoas já estavam a pedir que o projeto continuasse e temos de tirar algumas ilações disto. Vivemos tempos complexos, temos uma população muito envelhecida, que vive só, isolada, temos famílias cada vez mais pequenas e que estão cada vez mais distantes. A Covid acentuou este isolamento e temos de encontrar formas de chegar a elas. Talvez não seja exatamente com este modelo, mas temos de tirar as pessoas de casa para que possam conviver e estar com outras pessoas“, sublinha.
“Programação abrangente e para todos os públicos”
A programação cultural da Festa das Fogaceiras arrancou no dia 1 de janeiro e prolonga-se até dia 28, data em que os UHF sobem ao palco do Europarque para protagonizar um concerto que conta com a participação de 200 músicos das bandas filarmónicas do concelho. Concertos, oficinas, workshops, conversas informais, contos, mostra de fabrico, exposições, momentos de degustação, concursos de fotografia, um teatro revista… são mais do que muitas as propostas que celebram em pleno a festividade religiosa mais icónica do concelho, como reforça Elsa Sousa: “É de facto uma programação abrangente e para todos os públicos”.
Pode ouvir a entrevista na íntegra aqui.