“Um cancro da mama detetado precocemente tem uma taxa de cura superior a 90 por cento”
Em 2021, o Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga admitiu 150 pacientes com cancro da mama. “A maioria das doentes vieram com a doença numa fase mais avançada”, afirma a diretora do Serviço de Oncologia desta unidade, identificando aqui o impacto da pandemia que interrompeu os rastreios da doença. São impactos da pandemia da Covid-19, que interrompeu os rastreios e impediu que a doença fosse diagnosticada mais precocemente. Numa entrevista que assinalou o Dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama, Manuela Machado quis deixar uma mensagem “de esperança”. “É um cancro que detetado em estadios precoces tem uma taxa de cura superior a 90 por cento. Temos muitas sobreviventes de cancro da mama e, hoje em dia, além de curarmos as pessoas, também já estamos a orientar a nossa consulta para os sobreviventes do cancro”, realça a diretora do serviço.
Para assinalar o outubro rosa e o Dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama, data anualmente celebrada a 30 de outubro, a Rádio Sintonia convidou profissionais de saúde do Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga para falarem sobre a importância da prevenção e do rastreio, dos fatores de risco e sinais de alerta, sobre a evolução dos tratamentos e até a relevância da psicologia no acompanhamento de doentes oncológicos. Manuela Machado, Diretora do Serviço de Oncologia e Médica Oncologista, Amanda Nobre, Médica Oncologista, Mariana Santos, Médica de Cirurgia, Fátima Jerónimo, Médica Fisiatra, Marta Isabel Sousa, Médica Radiologista, e Anita Mendes Pinto, Psicóloga Clínica e da Saúde, estiveram nos estúdios da Sintonia.
O podcast está disponível na íntegra aqui.
CHEDV admitiu 150 doentes com cancro da mama em 2021
Manuela Machado destaca a relevância de assinalar o Dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama. “Quando falamos em cancro da mama, e particularmente da prevenção, não podemos esquecer o trabalho realizado pelos clínicos gerais, que fazem a parte mais importante, que é a prevenção e o rastreio do cancro da mama“, sublinha a diretora do serviço de oncologia do CHEDV.
A diretora do serviço aponta que a pandemia da Covid-19 teve impactos no rastreio da doença e que isso se traduziu “em diagnósticos em fases muito avançadas“. No CHEDV, a tendência não foi diferente em 2021, ano em que a unidade hospitalar admitiu 150 pessoas com cancro da mama. “A maioria das doentes vieram com a doença numa fase mais avançada, que é tudo o que não queremos, os tratamentos são mais complicados e as expectativas de recuperação também não são as mesmas do que um cancro de mama detetado em estadio precoce“, afirma. Manuela Machado salienta, porém, que os tratamentos oncológicos têm evoluído muito e que hoje o cancro da mama já não é uma sentença de morte. “É um cancro que, detetado em estadios precoces, tem uma taxa de cura superior a 90 por cento. Temos muitas sobreviventes de cancro da mama e hoje, além de curarmos as pessoas, também já estamos a orientar a nossa consulta para os sobreviventes do cancro“, assinala.
Rastreio, fatores de risco, sinais de alerta, tratamentos, recuperação e apoio psicológico no cancro da mama
Marta Isabel Sousa, Médica Radiologista, destaca a importância do rastreio para a deteção precoce da doença. Na região norte, a Liga Portuguesa Contra o Cancro realiza um rastreio em que mulheres entre os 50 e os 69 anos são convocadas para realizar uma mamografia, que é repetida de dois em dois anos. Marta Sousa adianta que este rastreio permite “detetar muito precocemente muitos cancros“, mas que é já insuficiente. Porquê? “Porque o rastreio começa a ser realizado aos 50 anos, quando todas as guide lines apontam para começar a partir dos 40 anos. Um em cada seis cancros da mama surgem antes dos 50 anos, por isso, ao começarmos o rastreio aos 50, estamos a deixar passar um em cada seis cancros“, esclarece.
Mariana Santos, médica de cirurgia, indica que há vários fatores de risco no caso do cancro da mama, alguns modificáveis e outros não. Os principais fatores de risco não modificáveis, afirma a médica de cirurgia, são o género e a idade. “Quanto mais velha for a mulher, maior é o risco do cancro da mama. A partir dos 40 anos, a curva de risco já começa a crescer“, afirma, acrescentando ainda que, em 10 por cento dos casos, há doenças hereditárias associadas.
Mas há fatores de risco que podem ser modificados, como é o caso do tabaco e da obesidade, os principais da lista. Mariana Santos aconselha “um estilo de vida saudável, uma alimentação equilibrada e a prática do exercício físico“.
E quais os sinais de alerta? Mariana Santos enumera.
Amanda Nobre, médica oncologista, salienta que no Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga, os doentes com cancro da mama são acompanhados por uma equipa multidisciplinar.
“A consulta de cirurgia é, muitas vezes, a porta de entrada do doente no hospital“, afirma Mariana Santos.
Manuela Machado aponta que hoje em dia, o “tratamento do cancro da mama passa sempre por cirurgia“. O objetivo é “diminuir o risco de a doença voltar a aparecer“.
Fátima Jerónimo, médica fisiatra, fala sobre a recuperação de doentes com cancro da mama e destaca que a fisiatria está cada vez mais voltada para a prevenção.
Anita Mendes Pinto salienta “o papel da psicologia no tratamento do cancro da mama”. A psicóloga sublinha os cuidados de excelência prestados pelo CHEDV que tem “uma equipa médica humana e atenta ao impacto da doença aos vários níveis“.