Padre Lino Maia: “É preciso erradicar mesmo a pobreza e é preciso uma estratégia em que todos deem as mãos”
Em 2022, o padre Lino Maia completa 16 anos ao leme da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), sendo, por isso, o líder que leva mais tempo à frente deste organismo. Encara o cargo “com espírito de missão, mas também muita alegria” e, em entrevista à Rádio Sintonia, aponta que uma das conquistas nos últimos anos no setor social tem sido “a sobrevivência e resiliência” das instituições, um dos “pilares fundamentais” do Estado Social. Preocupa-o a “sustentabilidade” do setor social e a crise que se aprofunda no país e, por isso mesmo, aponta caminhos possíveis e políticas para uma sociedade mais solidária com o que pouco ou nada têm.
Perante um contexto muito difícil – a crise económica e social, o aumento dos combustíveis, da energia e de produtos alimentares – o presidente da CNIS acredita que o Governo vai cumprir o Pacto de Cooperação para a Solidariedade (revisto em dezembro) e aumentar para 50 por cento, durante a legislatura, a comparticipação às IPSS (o valor situa-se atualmente entre os 37% e os 38%). Isto será uma forma de dar resposta à grande preocupação do setor: a sustentabilidade. “O grande problema das IPSS não é a falta de utentes, não é a falta de serviços, é a sustentabilidade. Se o Estado comparticipa 37% ou 38% e as famílias 33%, isto não pode perdurar eternamente“, avisa, alertando para o impacto do aumento do custo do combustível, da energia e até de bens alimentares nas instituições.
O presidente da CNIS defende que é preciso “encarar de frente o problema do combate à pobreza“, através de uma “estratégia capaz” e que envolva todos, algo que, no seu entender, não tem existido nos últimos anos. A consignação de um imposto para este setor, a revisão do regime fiscal das IPSS (equiparando-o, por exemplo, ao das autarquias) ou a canalização das receitas dos jogos sociais para o setor são algumas das ideias defendidas pelo Padre Lino Maia aos microfones da Rádio Sintonia.
O sacerdote acredita que, perante uma conjuntura muito difícil, é inevitável o aumento da pobreza em Portugal, algo que está já a acontecer. Por isso, defende a implementação de uma estratégia consistente que ponha termo à pobreza. “Não tem havido, de facto, uma estratégia capaz de erradicar a pobreza. A pobreza diminuiu qualquer coisa, muito pouco, mas é preciso erradicar mesmo a pobreza, é preciso uma estratégia em que todos deem as mãos“, sublinha.
“A principal conquista das instituições é a sobrevivência”
“Com espírito de missão, mas também com muita alegria“, é assim que o padre Lino Maia encara os 16 anos à frente da CNIS. O dirigente diz que não se quer “eternizar” no organismo, que este ano elege novos órgãos sociais.
O Padre Lino Maia elege as maiores conquistas do setor nos últimos anos. “A principal conquista destas instituições é a sobrevivência. Durante o período da Troika, por exemplo, houve muitas empresas a fechar, mas não houve instituições a fechar portas e durante esse período multiplicaram serviços, tal como na pandemia”, afirma. Outra das conquistas prende-se com a “visibilidade” que a CNIS tem dado às instituições, mostrando à comunidade a sua importância. Por último, mas não menos importante, o padre Lino Maia destaca a “paz social” para a qual o setor tem contribuído. “Vemos muitas vezes crises, manifestações e vemos que este setor tem estado em paz e tem estado em paz por causa de uma componente importante. A grande frente deste setor é o cooperar com o Estado e a cooperação tem sido vantajosa e válida“, descreve.
Setor social deu resposta pronta no acolhimento de refugiados da Ucrânia.
Presidente da CNIS reflete sobre o aumento dos combustíveis, energia e produtos alimentares, sublinhando o grande impacto nas instituições e defendendo a intervenção do Estado.
A diminuição da natalidade e o aumento da esperança de vida colocam novos problemas à sociedade portuguesa. O padre Lino Maia defende que é preciso “encarar de frente o problema da pobreza“.
O padre Lino Maia deixa o alerta de que, face “a sucessivos resultados negativos“, as instituições podem ter a tentação de “dar preferência a pessoas que possam pagar“, “desviando-se” da missão de “ajudar os mais carenciados“.
“As instituições são um dos principais pilares do Estado Social“, realça.
O Padre Lino Maia diz que é expectável o aumento da pobreza em Portugal, devido à crise económica e social, e aponta que há já indicadores que denunciam este aumento.
Perante os vários ciclos de pobreza que se assistem em Portugal, surge a questão: As políticas dos últimos anos têm falhado? O Padre Lino Maia diz que sim: “Não tem havido, de facto, uma estratégia capaz de erradicar a pobreza. A pobreza diminuiu qualquer coisa, muito pouca, mas é preciso erradicar mesmo a pobreza é preciso uma estratégia em que todos deem as mãos“, sublinha.
A entrevista com o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), marca o início de um ciclo de conversas quinzenais, nos estúdios da Sintonia, a propósito do setor social e do trabalho desenvolvido pela CNIS. O programa regressa a 21 de abril. Pode ouvir a entrevista na íntegra aqui.