Retratar o despovoamento em Agrações valeu a Tiago Fonseca o prémio Estação Imagem 2021 na categoria Vida Quotidiana
Tiago Fonseca, fotógrafo natural de Santa Maria de Lamas, venceu este ano o prémio Estação Imagem 2021 Coimbra na categoria ‘Vida Quotidiana’. A forma como retratou o despovoamento na aldeia de Agrações, com o projeto ‘Buraco’, valeu-lhe o galardão. Nos estúdios da Sintonia, fomos conhecer o seu percurso e os sonhos que acalenta. Tiago, atualmente a residir em Rio Meão, confessa que “viver da fotografia” é o seu grande objetivo.
Tiago Fonseca, natural de Santa Maria de Lamas, não gosta de falar de si próprio. Prefere falar de fotografia, o tema central da conversa nos estúdios da Sintonia. Admite que esta é uma arte que sempre gostou, mas o clique para se debruçar por inteiro nesta área surgiu recentemente, em 2017, depois de uma viagem ao Vietname, onde levou na bagagem uma máquina fotográfica ‘point and shoot’.
Quando regressou, decidiu apostar na sua formação. Comprou os primeiros livros e a primeira máquina fotográfica e inscreveu-se no Instituto Português de Fotografia, uma casa que o ajudou a crescer enquanto fotógrafo e que contribuiu, em última análise, para vencer em junho deste ano o prémio de Fotografia Estação Imagem 2021 Coimbra na modalidade Vida Quotidiana. “Foi muito importante toda a formação que fiz. Considero-me um fotógrafo profissional, mas não tenho um rendimento constante. Toda a minha formação levou-me a ganhar o prémio e sem uma coisa não poderia ter outra“, revela aos microfones da Sintonia.
Tiago Fonseca, que antes trabalhava numa fábrica de cortiça, trocou o emprego pela fotografia para poder gerir os seus próprios horários e perseguir o sonho de fazer desta arte uma profissão. É “exigente” com o seu próprio trabalho e tem em Mário Cruz uma das grandes referências no mundo fotográfico. “Gosto muito de fotografia documental. Gosto de fotojornalismo, mas não gosto do fotojornalismo editorial, fotografar alguém para uma capa ou qualquer coisa desse género já não gosto tanto. Gosto mais de fotografia documental, como o Mário Cruz faz, e também de desenvolver um projeto ao longo do tempo“, explica.
E foi com um projeto longo que acabou por vencer o mais recente galardão. No âmbito de um projeto para o curso do Instituto Português de Fotografia, Tiago Fonseca decidiu fotografar a aldeia de Agrações, em Chaves, para tratar o tema “do despovoamento do interior de Portugal“. Terminado o curso, o fotógrafo continuou a desenvolver o projeto numa masterclass narrativa orientada pelo fotógrafo Mário Cruz. Regressou a Agrações em 2020, uma aldeia onde vivem 12 pessoas. “Aquilo é, literalmente, o fim da estrada, não há mais para onde ir“, descreve, caracterizando uma população que vive no passado e que sente que não tem futuro. O nome que deu ao projeto – ‘Buraco’ – e que lhe valeu o prémio é espelho disso mesmo. “Foi numa conversa com a Sr. Ilda. Ela falou comigo e disse-me uma frase que me marcou muito. Disse que não tinha nascido, que tinha morrido duas vezes, ou seja, que nasceu no buraco e quando morresse ia para o buraco outra vez“, afirma.
Tiago, atualmente a residir em Rio Meão, diz que não estava à espera de ser galardoado. “É bom ver o trabalho reconhecido. Achava que tinha um bom trabalho, mas não bom o suficiente para ganhar um prémio assim, principalmente sendo a primeira vez que concorria ao prémio“, sublinha. O projeto ‘Buraco’ reúne uma série de dez fotografias que retratam o despovoamento em Agrações. “A ideia é sempre submeter as pessoas para a ideia do isolamento sem ser de uma forma muto direta. A primeira fotografia é um pano pendurado ao vento e com o monte todo por trás, isso dá logo uma sensação de isolamento. Tenho algumas fotografias diretas e outras mais indiretas“, descreve.
E o que lhe reserva o futuro? Tiago Fonseca não sabe, mas gostava de vencer mais prémios e fazer da fotografia uma ocupação a tempo inteiro. “Viver só da fotografia, esse era o grande objetivo“, confessa.
Pode ouvir a entrevista na íntegra aqui.