Vidas que a arte comunitária transformou apresentam-se em palco com dança e teatro
Gente da comunidade, jovens institucionalizados e pessoas com experiência em doença mental dão corpo a um singular espetáculo de dança, ‘Singular Margem’, que estreia dia 9 de outubro, às 17h00, nas margens do rio Cáster (junto à Casa do Moinho), em Santa Maria da Feira. No dia 23 de outubro, às 17h30, sobe ao palco da Academia de Música de Paços de Brandão o espetáculo multidisciplinar ‘E amanhã?’, protagonizado por pessoas com deficiência de quatro instituições concelhias. Ambas as criações coletivas foram desenvolvidas no âmbito do projeto Transformarte – Rede de Arte Comunitária de Santa Maria da Feira e integram a programação inclusiva do FIMUV – Festival Internacional de Música de Paços de Brandão
Inspirado no conto ‘A terceira margem do rio’, de Guimarães Rosa – proposto por uma das participantes do grupo que demonstrou vontade em abordar o tema da loucura, do estar à margem ou o ser margem – o espetáculo ‘Singular Margem’ é uma criação do coletivo ‘Poesia no Corpo. Corpo na Poesia’, com direção artística de Helena Oliveira e participação de jovens institucionalizados da Obra do Frei Gil, pessoas com experiência em doença mental acompanhadas pelo do ACES Entre Douro e Vouga, gente da comunidade, de várias idades e diferentes contextos sociais que integram o grupo da Casa dos Choupos, e Orquestra Criativa de Santa Maria da Feira.
Há largos meses que Ana Silva, educadora social na Obra do Frei Gil, acompanha os oito jovens da instituição que integram o espetáculo ‘Singular Margem’ e não tem dúvidas do poder transformador deste projeto. “A transformação dos jovens, do seu pensamento, comportamento, envolvência e preocupação com o outro foi evidente no decorrer das sessões”, testemunha a técnica, sublinhando a oportunidade que todos tiveram de aprimorar competências e ferramentas fundamentais para o seu desenvolvimento pessoal e social, em particular o desenvolvimento da inteligência emocional e da sensibilidade humana.
Para quem habitualmente acompanha os utentes com doença mental do ACES Entre Douro e Vouga no contexto domiciliário, foi “uma grande satisfação” vê-los participar de forma ativa e empenhada na construção deste espetáculo comunitário. “Foi notória a sua mudança comportamental e foi muito bom ver que eles conseguem adaptar-se ao meio social”, refere a enfermeira Viviana Albuquerque, da equipa comunitária de apoio à saúde mental (ECASM), salientando a importância desta participação no combate à inatividade, ao isolamento e à solidão.
Nos projetos da rede Transformarte as vulnerabilidades físicas, mentais e sociais convertem-se em oportunidades e todos participam de forma ativa na construção dos espetáculos. Foi que aconteceu no decurso do processo criativo de ‘E amanhã?’, criação artística multidisciplinar protagonizada por pessoas com deficiência da AMICIS (Sanguedo), Casa Ozanam (São João de Ver), CerciFeira e CerciLamas, sob a direção artística da companhia Teatro em Caixa – Associação Sótão do Vizinho.
Mas é no palco que os participantes celebram a diversidade através do teatro, música, dança e artes visuais. ‘E amanhã?’ é “uma janela de reflexão onde se cria um lugar seguro para uma observação do mundo e as transformações necessárias ao bem comum”, lê-se na sinopse do espetáculo. Para o encenador, Diogo Bastos Pinho, o maior desafio nesta produção foi a realização de sessões de trabalho conjuntas com quatro instituições, que se traduziram numa série de benefícios no que toca à motivação e desinibição dos participantes.
A apresentação dos espetáculos ‘Singular Margem’ (estreia) e ‘E amanhã?’ (reposição), no âmbito do FIMUV, tem acesso livre e gratuito.